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terça-feira, 30 de junho de 2015

Os números não mentem







A soma da minha paciência na falta das tuas respostas.

A multiplicação dos meus esforços na tentativa de subtrair o teu orgulho.

A fração do meu tempo para compensar as tuas ausências desatentas.

A potencialização do meu comprometimento para anular a escassez do teu.


Probabilidades quase nulas.
Estatísticas contrárias.
Dois ímpares multiplicados por zero.


Nunca fomos uma equação que pudesse ser resolvida.
Não passamos de raciocínio lógico: relação à dois não se faz só com um.
 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O amor não é delivery



Tem uma multidão lamentando em público ou amargurando no íntimo a sua solidão ou solteirice. A mesma proporção de gente está por aí buscando príncipes e princesas, bilionários, deuses e deusas fitness, atores globais, gênios e super-heróis como par.

Esquecem de olhar para si e perceber suas limitações, suas superestimações pessoais e exigências fora de contexto. E esquecem principalmente de olhar para o lado.

Salvo raras exceções, relacionamentos não surgem do nada.

Não há uma grande festa em que a donzela maltratada na casa da madrasta descola uma fada que lhe deixa super gata para achar o bonitão forte, esbelto e dono de castelos. Muito menos existe a garota mais bonita do lugar que fica com pena do rapaz com cara de coitado que sai da festa para olhar a lua e lamentar pelo mundo cruel.

Amores surgem de contato, de comunicação e conhecimento e, pode acreditar, independem de beleza física estonteante. Quase sempre o amor está nos nossos próprios nichos sociais, sejam eles virtuais ou reais. E se fortalecem em afinidades.

Muita gente reclama de estar só, procura no lugar mais longe - não raro, tem gente se apaixonando por quem está do outro lado do mundo. Insiste em idealizações sobre amor criadas com base em enredos centenários e ressuscitados nas novelas e comédias românticas.

Tudo é uma questão de se reconhecer e olhar ao redor. Olhar ao redor e reconhecer o que há de você por aí, perdido em quem está por perto e acessível.

Quase sempre o amor está mais próximo do que se imagina.

O amor há de imperar



Falar de amor é uma das coisas mais fáceis do mundo. Até para quem ainda não viveu um dos grandes e arrebatadores. Basta ter sentido algum em segredo, ter lido meia dúzia de poemas ou nem isso. Ouvir meia hora de músicas românticas e bregas já habilita a qualquer um falar de amor.

Mas, antes de qualquer coisa, o amor é imbatível, expressado ou não. Resiste. E se não resiste naquele que é o objeto do amor, tenha esse amor as mais diversas origens, brota em qualquer espaço que haja respiros, suspiros e vontade de doação.

Num cachorro, nos melhores amigos, no filho, no neto, na arte, em um carro, em alguma mania escondida, na mãe, numa vizinha idosa que requer cuidados, em outra mulher ou homem disposto a retribuir, no trabalho, em si, no dinheiro e até no ódio - há quem ame ostentar seus ódios, não é mesmo?

Nem se preocupe tanto com o amor. Embora não haja tanta intimidade com as palavras, embora esteja dado como caso perdido, o amor há de imperar, sim. Pode acreditar.

Há dias



Há dias que você deseja esbarrar com alguém compreensivo o suficiente para entender as suas neuroses, frustrações, silêncios e as porcarias em que algumas coisas vão se tornando enquanto a máquina da vida nos mói va-ga-ro-sa-men-te.

Há dias em que as batalhas são perdidas antes de começar e você fica ali, no chão, sujo de lama, pólvora e sangue sem ter dado sequer um tiro. Um acordar na beira do mar e não ver o sol nascer.

Há dias que você, na verdade, nem quer nada. Talvez queira um café e sentar de frente para o mar, sem que isso seja considerado um dia inútil. É só a sua vontade. Há dias que você se cansa um pouco de ser diferente e até acredita que há certa normalidade no sujeito dito normal e, até olha para o que a vida tem se transformado nos últimos episódios e nos últimos meses e fica pasmo, pois percebe que está tudo incrivelmente normal. Bate uma aflição tamanha de estar ficando normal como nunca quis.

Há dias que você quer uma força, como acontece com todo mundo. De repente, você dormiu de mau jeito e a frustração vem em forma de suspiros, daí você quer a tal força, externa, de alguém, de Deus, de qualquer coisa, mas está certo de que não há, porque desacredita que qualquer força realmente necessária venha de fora. Ainda assim procura, sabendo que encontrá-la seria uma tremenda traição a si mesmo.

Há dias assim, um procurar, não achar e desistir para que, noutro dia, sem querer, ainda que desejando em silêncio, encontre.

Por onde andarei



A vida é boa, mas doida.


A grande verdade que ela pacientemente ensina é que estamos lutando diariamente contra a nossa sombra, tentando ultrapassar as barreiras que nós mesmos levantamos e buscando um 'sucesso' criado mais para exibir do que sentir.


E assim seguimos. Sem questionar, sem contrariar. O tal sorridente frustrado.


Esse mundo me aniquila.

Ele me leva ao limite.

Ele me nega sem raiva.


E eu, consentindo e vencido, me encaminho para uma direção inusitada e que jamais pensei que seguiria.


Talvez sem pódio de chegada, mas com um percurso lotado de conquistas imperecíveis que dispensa qualquer coroação.

Aqui me tens de regresso?




É difícil voltar. Muito mais complicado do que partir, diga-se de passagem.


Voltar é recuar, mesmo que por razões plausíveis.


Voltar é pular dentro da engrenagem em movimento e torcer para que o salto seja preciso e sincronizado.


Voltar é desafio negligenciado. Pressupõe-se que é só ocupar um lugar que já era teu. Esquecemos que tudo muda. Os lugares, os espaços, os desejos, as pessoas. Inclusive você.


A vida é um labirinto.


Voltar é difícil porque já não somos mais os mesmos.

Andamos. Nós e o tempo.


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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Sonhos de um peixe voador



Um dia disseram que o que escrevo não é nada demais.
O que fazer se o que é exposto no texto reflete apenas o que se viveu?
A vida é ordinária, ora bolas. A minha, então, nem se fala.

Cuspi-la em palavras é atrevimento, é sonho, é tarefa doce de desfazer e refazer os fatos à medida que se quer, com a liberdade que se tem. Reconstruir a existência com ajuda de apenas 26 letras do alfabeto não é lá grande coisa, mas alivia qualquer suposto peso que eu carrego.

Escrever é se exibir. Ler é espiar. Talvez por isso, ainda que na ditadura feroz da imagem, a leitura sobreviva. Ler é observar pela fechadura algo que nos traga a falsa sensação de que há alguma coisa em comum com outras pessoas no mundo.

"Bah, aquele cara disse algo que eu diria/faria/pensaria ou já disse/fiz/pensei".

Um dia disseram que eu não escrevo nada demais, como se julgamentos fossem modificar a minha estranha vontade de comunicar, mesmo que seja coisa nenhuma a ninguém.

Tenho uma memória difusa que mistura o lido, o vivido e o assistido em imagens truncadas. É dela que me sirvo nessa escrita vira-lata. Nada demais, mas tão necessária pra que eu continue firme no duelo entre sobreviver e manter a cota mínima de sonhos, mergulhos e voos, embora haja muitas noites de insônia em que o mar não está para peixes voadores.

O passado é uma poeira



"O passado é uma roupa que não nos serve mais"

Não. O passado não é uma roupa que não serve mais, Bechior.

O passado é tudo que se construiu antes do agora e paralisou no que se é, se faz, se pensa, se indigna, se emociona, se comove.

Se posiciona para se mover para outros lugares, além da estrada que se evita retomar ou até se percorre pelo mesmo caminho, mas com os olhos de quem experimentou e conhece as consequências.

É muito provável que sejamos todos apenas uma junção de tudo o passamos por esta vida. Tudo que acertamos e erramos em um acúmulo que criou cicatrizes e buracos na alma, que fortaleceu ou enfraqueceu as ideias que já foram novidade, que nos obriga a conviver com quem fomos ontem.

O passado, Belchior, não é uma roupa. É a poeira grudada sobre a pele impossível de remover. Nela submergiremos, transformados em pó, quando o tempo terminar e não houver diferença de hoje, ontem e amanhã.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A fome do carente.


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Ah, o carente.

Mal deseja e já quer consumir.
Antecipa os sentimentos desprezando todo aquele conceito de construção.
Recém plantou e já parte para a colheita.

Confesso que não sei lidar com filantropia amorosa.
Amor não é caridade. Amor é honra ao mérito.

Contudo, amor também é alimento para a alma. O carente é um desnutrido.
Um faminto emocional que age com euforia descomunal quando um banquete lhe é ofertado. Qualquer migalha vira padaria.

O carente não aprendeu a saborear. Devora com a naturalidade de quem não se alimenta há semanas.
A estética dos seus atos perde a relevância. Saciar-se é o objetivo.
Rasga o pacote com força, sem seguir as indicações de abertura.

Pois que me permitam defender o carente e suas motivações.
Ele não teve aulas de etiqueta para o amor.
Não condene. Isso tudo é só fome.


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