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segunda-feira, 7 de abril de 2014

(S)EM SINTONIA




Comecei a escrever um livro. Você só queria ler uma frase.
Roteirizei uma série. Você, um trailer.
Emoldurei o presente já pintando o futuro. Você ainda rabiscava o passado.
Preparei um banquete. Você já estava saciado.
Indiquei uma autoestrada . Você buscava um atalho.
Comprei passagens como se estivéssemos em férias. Você embarcou em fuga.
Ofereci moradia. Você veio apenas dar uma passadinha.
Todo início é um andar em corda bamba. Nos faltou equilíbrio.


sexta-feira, 4 de abril de 2014

EU NÃO MINTO, VAI PASSAR.




Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai suportar, mas suporta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. Dor é assim mesmo. Arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir um zíper e sair do corpo. Encarnar numa planta, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás. Nesse momento, você não percebe isso porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma uma cerveja, fala besteira com algum amigo, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram seus órgãos e torceram como uma toalha molhada, isso tudo - é difícil de acreditar, eu sei - vai virar só uma lembrança, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levanta daí. Liga para um amigo, vai dar uma volta, veja pessoas, escute histórias. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. 'É melhor viver do que ser feliz'. Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo da montanha a dor começa a diminuir e o único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Provavelmente sofrerá de novo, mas por novas dores, novas feridas. Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.